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quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Bagre-africano vira ameaça para a pesca na região

 

Espécie de peixe é ameaça / Rodrigo Silveira / Reprodução

Introduzido há cerca de 20 anos no ecossistema do rio Paraíba do Sul e lagoas, em toda a região Norte Fluminense, o bagre-africano vem dominando o território aquático. Temendo pela extinção de espécies nativas, um grupo de pescadores aposta na pesca agressiva do peixe exótico, para a própria economia e consumo, além da tentativa de garantir o controle da espécie que é extremamente predadora. Pesquisadores e ecologistas não se opõem e apostam na pesca em larga escala e em programas de governo para a retirada total do peixe, que se tornou uma praga, e está fazendo desaparecer diversas espécies nativas da região, ameaçando a atividade pesqueira artesanal em águas doces.

Emilton Basílio de Souza, conhecido como ‘Pico Pescador’, de 56 anos e que pesca no Paraíba desde os oito, juntamente de outros quatro pescadores, vem se dedicando à pesca em larga escala. No último sábado (24), o grupo retirou cerca de uma tonelada do peixe do entorno do canal de São Bento, em Venda Nova, na Baixada Campista. O trabalho irá continuar nesta quarta-feira (28).

O bagre-africano vem acabando com espécies nativas da região como robalo, sairu, piaba e acará, em uma proporção que, de acordo com pescadores e estudiosos, a cada quatro caixas de pescado, apenas uma é de peixes nativos.

Emilton, o ‘Pico Pescador’, se preocupa com o futuro da profissão.

Ele não mata só peixe, ele mata o pescador também. A partir do momento que ele acaba com o peixe nativo, você perde sua fonte de renda. O que nós fazemos é unir o útil ao agradável, tentar eliminar ele da natureza e fazer um dinheiro em cima. A pesca artesanal de água doce está ficando quase insustentável na nossa região, se não tirar ele, eu acredito que em 15 anos não teremos mais nada — comentou Pico.

O pescador informou ainda que o peixe não é rentável mas o volume da pesca compensa. “Os frigoríficos pagam de R$ 0,50 centavos à R$1,50 por quilo. O peixe nativo tem o preço mínimo de R$ 4,00, por quilo. Com o bagre-africano, conseguimos ganhar no tamanho e na quantidade. Normalmente, pegamos de uma à duas toneladas por pescaria”, contou.

Para o ambientalista, Aristides Soffiati, colunista do Portal do Farol, é necessário mobilização. “Seria bom se pudéssemos retirar todas as espécies invasoras do Paraíba. Acredito também em um programa governamental, em conjunto com a academia e com os pescadores dispostos a retirar esses animais e reintroduzir as espécies nativas. Entretanto, temos que ter noção que essas espécies nativas são muito sensíveis, por esse motivo, a poluição do Paraíba também favorece a proliferação”, disse.

Outro ambientalista, pescador esportivo e idealizador do projeto, José Armando Barreto, explica que a pesca do Bagre-Africano é realizada encurralando-os com uma rede e uma agitação na água em uma área de canal onde até as bordas de terra devem ser cercadas. Segundo ele, é possível fisgá-lo com iscas artificiais, mas demanda resistência e habilidade pela força do animal que pode chegar aos 15kg. O consumo da carne também é possível, apesar de sua aparência, fator que foi decisivo para o fracasso comercial do peixe no Brasil e liberação no rio Paraíba do Sul por aquicultores, na altura de São Paulo.

A carne é apta para o consumo, mas passa por um tratamento. Você tem que sangrar o peixe, depois corta o filé e deixa na água gelada por 6h para que seja retirada a amônia, do mesmo jeito que se faz com filé de cação. Existem frigoríficos que ainda dão uma camada de vapor da água para conservar por mais tempo. O percentual de aproveitamento da carne dele é de 65% — informou Zé Armando ao acrescentar que: "O aumento de volume e quantidade de pesca desses peixes é a única solução. Ele é um predador invasor, assim como o Dourado, uma espécie exótica na cadeia alimentar do Paraíba e nós somos os únicos que podemos fazer o controle."

A pesca nos rios e lagos da região será interrompida de 01 de novembro a 28 de fevereiro, devido ao defeso da piracema.






Fonte: Folha 1 | Redação

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