Por Arthur Soffiati
Quem atualmente visita o sul e o leste da lagoa Feia, entre a lagoa do Grussaí e a Barra do Furado, não percebe toda a história natural e social nela embutida. Trataremos apenas da história social. Na vila de Barra do Furado, vê-se um longo e largo canal que liga a lagoa ao mar. Ele foi aberto na década de 1940 para escoar água excedente para o oceano. Como a energia marinha é muito forte, sua foz se fechava com areia assim que as águas continentais se escoavam. Então, o Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS), extinto em 1990, prolongou o canal mar adentro por meio de dois espigões de pedra no início dos anos 1980. O espigão da direita, no município de Quissamã, passou a acumular areia. O da esquerda, no município de Campos, passou a erodir a praia. Hoje, barcos pesqueiros entram e saem com dificuldade pelo canal, mesmo com uma draga estacionada e operando continuamente na sua entrada.
Mas, antes da abertura desse canal, batizado de Flecha, havia uma rede de canais naturais que formavam uma complexa renda e que se reuniam num rio principal até alcançar o mar. A esse canal, os Sete Capitães, iniciadores de uma colonização contínua da região em moldes europeus, chamavam de Iguaçu. No roteiro de suas três viagens à baixada entre o mar e o rio Paraíba do Sul, entre 1632 e 1634, lê-se: “... caminhamos sobre a marinha e tivemos areais: para suportarmos das fadigas descemos das marinhas para a campina em razão dos areais; caminhamos beirando a campina da parte do noroeste; faziam lagos de água, e destas águas é formado o rio Iguaçu. Ele tem seu nascimento na grande Lagoa Feia, a que lhe demos o apelido, nos fundos sacos apantanados traz sua corrente a leste; suas águas são encanadas por uma espécie de rio, fazendo suas voltas, aonde traz sua corrente pela parte do sudoeste pelo sítio do curral do capitão Monteiro, na Castaneira, apelido que ele lhe deu; segue até certa altura da campina, seguindo para leste para a parte da marinha. Neste lugar finda o dito encanamento. Suas águas se espraiam pela dita campina, sempre a leste, não muito longe da marinha; deste lugar fazem sua quebra a procurar o nordeste, isto até a barra do dito Iguaçu, ao norte do cabo de São Tomé.” (GABRIEL, Adelmo Henrique Daumas e LUZ, Margareth da (Orgs.); FREITAS, Carlos Roberto B.; SANTOS, Fabiano Vilaça dos; KNAUS, Paulo; SOFFIATI, Arthur (notas explicativas) e GOMES, Marcelo Abreu. “Roteiro dos Sete Capitães”. Macaé: Funemac Livros, 2012).
O rio Iguaçu nascia na lagoa Feia, mais precisamente no saco de Capivari, formado pela lagoa, recebia a contribuição de outros canais naturais que partiam dela, formava a lagoa do Lagamar, recebia defluentes que partiam do rio Paraíba do Sul nas cheias, alargava-se no banhado da Boa Vista e desembocava no mar depois de receber o rio do Veiga, seu último afluente. Como não existe nenhum mapa contemporâneo às três expedições empreendidas pelos Sete Capitães, só podemos supor como era o contexto hídrico do sul da lagoa Feia.
Em 1688, o capitão José de Barcelos Machado, herdeiro indireto de um dos capitães e dono de uma das quatro grandes fazendas da região, abriu um rasgo no rio Iguaçu no ponto em que ele mais se aproximava da costa para escoar água doce acumulada no continente na estação das chuvas. Esta abertura ficou famosa e ganhou o nome de vala e Barra do Furado. Na verdade, era um furo na margem direita do rio Iguaçu no ponto em que ele mais se aproximava do mar.
Por uma foto aérea de 1937, tirada pela Comissão de Saneamento da Baixada Fluminense, talvez fique menos difícil a compreensão. O maior defluente da lagoa Feia era o rio Iguaçu, ainda conhecido com esse nome hoje, também chamado de rio Barro Vermelho e do Espinho. Ele saía da lagoa Feia e recebia os rios Velho, Novo do Colégio, Caxexa e da Onça como afluentes. Sua foz era conhecida como Barra do Canzoza.
Visão do rio Iguaçu, em foto do tenente Kafuri datada de 1937. Na legenda, ele é denominado de rio Furado
O que o capitão José de Barcelos Machado fez, em 1688, foi abrir uma valeta no ponto em que o rio Iguaçu mais se aproximava da costa, assinalado em vermelho. Com bastante atenção à foto, ainda vemos canais desativados na margem direita do rio e outros retilíneos, abertos por ação humana, na margem esquerda.
A primeira descrição detalhada da malha hídrica do sul da lagoa Feia, parte de um sistema maior formado pela grande lagoa, rio Ururaí, lagoa de Cima e rio Imbé, pelo menos, foi feita pelo capitão de infantaria Manoel Martins do Couto Reis, em 1785. Ele era cartógrafo e foi designado por Luís de Vasconcelos e Souza, vice-rei do Brasil, para desenhar um mapa do Distrito dos Campos Goytacazes, onde se encontra o sistema hídrico. Além de um minucioso mapa, ele redigiu um importante relatório, até hoje fonte obrigatória para historiadores regionais. Sem hesitação, pode-se afirmar que Couto Reis foi quem melhor compreendeu esse mundo líquido hoje perdido. Além de navegá-lo, o cartógrafo o desenhou como nenhum outro.
Seria cansativo transcrever toda a descrição do sistema feita pelo capitão cartógrafo. Ressaltemos apenas alguns trechos: “O rio Castanheta é como um aqueduto daquela lagoa (Feia) e principia no Saco de Capivari: continuando o seu fluxo, vai tomando em si os córregos do Rodrigo, do Ingá e do Barro Vermelho, que nascem do mesmo saco, porém mais ao norte e em distintos lugares. Com este conjunto formam ilhas: ele se faz mais volumoso e chega ao sítio do Furado. Prosseguindo sempre pela mesma costa da lagoa, sai dela o rio dos Canudos, o qual vai recebendo outras águas de muitos córregos e brejos inominados; com este excesso toma nova denominação de Vala Grande e depois de rio da Onça até se encontrar nas Cruzes com outros córregos ou rios (...) logo mudando de rumo para o nascente, em pequena distância se converte em um lagamar; na terminação deste, toma princípio o rio da Capivara, que corre quase paralelo ao combro do mar, de quem fica próximo; prossegue finalmente assim, recebe o rio dos Pauzinhos e depois o do Tucum; de novo se aumenta mais com o adjutório de alguns brejais e forma o Largo da Quixaba, de onde se origina o Iguaçu, rio assaz avultado que na distância de pouco mais de uma légua vai fenecer sem barra, posto que perto do mar” (COUTO REIS, Manoel Martins do. Manuscritos de Manoel Martins do Couto Reis – 1785: Descrição geográfica, política e cronográfica do Distrito dos Campos Goitacazes. Campos dos Goytacazes: Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima; Rio de Janeiro: Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, 2011).
Para decifrar minimamente o sistema: “Na mesma costa, e em direção quase reta, principia logo o rio do Veiga, que na distância de pouco mais de uma légua acaba totalmente; as suas origens ou são produzidas de chuvas ou de algumas sobras do brejo do Martinho que em tais tempos concorrem para ele; não lhe conheço fluxo que o da impressão de alguns ventos que o fazem mover vagarosamente ora para uma ora para outra parte; eu o considero como águas mortas de um pequeno lago”.
O mapa por ele levantado ilustra melhor o complexo sistema.
O sistema hídrico na planta do Distrito dos Campos Goytacazes levantada por Manuel Martins do Couto Reis em 1785
Quanto à ligação da vala do Furado, da Barra Velha, do rio Iguaçu e do rio do Veiga ao mar e sua navegabilidade, convêm continuar ouvindo Couto Reis. Ele informa, no relatório que, depois da expulsão dos jesuítas do império colonial português, era de se esperar que os fazendeiros fizessem o trabalho dos religiosos de abrir a Barra do Furado no tempo das chuvas para que as águas continentais excedentes vertessem para o mar. Já que não o faziam, era conveniente que a Câmara Municipal chamasse a si esse encargo. Com pás e enxadas, as areias acumuladas pelo mar num cômoro eram removidas, abrindo-se “um rego ou vala até que por ele se encaminhem as águas facilmente”, correndo para o mar com força prodigiosa e formando uma barra de muita largura e fundura, exigindo-se uma canoa para vadeá-la. Em nota, ele acrescenta que, por ocasião da abertura da barra, no tempo do Mestre de Campo José Caetano de Barcelos, uma canoa ficava à disposição de quem desejasse atravessar a corrente. Mas, esgotando-se as águas das chuvas, os ventos e a violência do mar, fechavam a vala.
Couto Reis informa também que a rede de vertedouros naturais da lagoa Feia era navegável. Alguns ainda podem, atualmente, comportar canoas e lanchas pequenas em período de cheia. “Os rios (...) como o de Canudo, Castanheta etc. são enfadonhos de navegar-se (...) por alguns transitei embarcado com precisão, mas com grande trabalho (...) os Jesuítas com gênio e economia inimitável tinham a cautela de darem de tempos em tempos uma limpeza total nos córregos e rios desta qualidade, e por isso então ofereciam desembaraçada navegação e passagens fáceis de vadear-se”.
Com a expulsão dos jesuítas do império colonial português pelo marquês de Pombal, em 1759, esse trabalho de limpeza foi abandonado por falta de iniciativa pública ou particular. Lembre-se que Couto Reis não gostava dos jesuítas, mas reconhecia-lhes o valor.
Couto Reis concluiu que se podia navegar a vala do Furado quando da sua abertura, mas não mencionou a Barra Velha, na lagoa do Lagamar, e informou que o rio Iguaçu não desembocava no mar nem o rio do Veiga se ligava a ele. Talvez ele tenha visitado os dois rios em tempo de estiagem, quando as águas continentais perdiam força por falta de chuva.
O segundo autor a fornecer informações sobre o sul da lagoa Feia foi o clérigo português Manoel Aires de Casal. Ele lançou, em 1817, um famoso livro divulgando pela primeira vez a carta de Pero Vaz de Caminha sobre a chegada dos portugueses ao Brasil. O livro pretende fornecer informações sobre todas as capitanias do Brasil. Daí, ele não poder se estender sobre uma região em particular. Mesmo assim, produziu uma síntese enxuta e correta sobre o sistema de escoamento hídrico da lagoa Feia: “Deságua por vários canais, que com amiudados rodeios formam grande número de ilhas, sem que nenhum deles tenha saída para o oceano, por causa dum extensíssimo e alto cômoro de areia grossa e firme, formado pelo mar. Todos estes sangradouros se reúnem em diversos pontos, e formam outra lagoa com muitas léguas de comprido, e largura dum espaçoso rio prolongada com o mencionado cômoro, através do qual se abre anualmente à enxada em certa paragem um desaguadouro, que se torna em um rio considerável com o nome de Furado, enquanto os receptáculos interiores não chegam ao nível natural, o qual é imediatamente entupido pelo mesmo mar. Iguaçu ou rio Castanheta se chama o meridional e principal dos mencionados canais” (CASAL, Manuel Aires de. Corografia brasílica. São Paulo: Edusp, 1976).
Quase 40 anos depois de Couto Reis, em 1819, José Carneiro da Silva escreveu que “De um pequeno golfo, que faz (a lagoa Feia), saem cinco rios que a esgotam, os quais, principiando a nomeá-los pela parte do sul, são os seguintes: o rio do Iguaçu, hoje rio do Furado e atualmente também conhecido pelo nome de rio do Espinho velho; o rio Iguaçu é um rio morto; Barro Vermelho, Castanheta, rio novo do Colégio e rio da Onça, ou vala grande” (SILVA, José Carneiro da. Memória topográfica e histórica sobre os Campos dos Goytacazes com uma notícia breve de suas produções e comércio oferecida ao muito alto e muito poderoso Rei D. João VI por um natural do país, 3ª edição. Campos dos Goytacazes, Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, 2010).
Segundo o mesmo autor, esses rios iam sucessivamente se ajuntando em diferentes lugares, até chegarem ao “Furado em um só, e aqui faz uma barra no mar, que não admite gênero algum de embarcação, por ser estreita e a costa direita de areia solta e sem abrigo.”
Sobre o rio Iguaçu, ele informa que “Daí continua o mesmo rio (do Furado) pela costa para o norte com o nome de Capivara, passando pela ponta de S. Tomé até Canzoza, onde faz outra barra ao mar a qual também se chama barra do Iguaçu. Estas barras não são permanentes, porque só se abrem à força de braços, pois que comumente, em tempo de seca, se tapam pela pouca água que os rios levam. Contudo, tem se visto a do Furado permanecer um ano aberta”.
José Carneiro da Silva, membro da aristocracia rural e detentor de vários títulos de nobreza, dedicou sua memória a D. João VI, que não a deve ter lido e, se a lesse, não deveria entender nada. A malha de defluentes naturais ao sul da lagoa Feia era uma complexa rede, cujos formadores tinham e têm ainda muitos sinônimos. Por isso, há dúvidas se José Carneiro da Silva, que vivia entre Campos e Macaé (hoje no trecho correspondente a Quissamã), compreendeu devidamente o sistema de escoamento da lagoa Feia.
Contudo, o mais curioso é que José Carneiro da Silva, depois de escrever sobre a impraticabilidade de cruzar a Barra do Furado no sentido continente-mar e vice-versa, redige uma nota no final da sua memória: “A barra do rio Furado é estreita, e as águas deste rio correm com bastante velocidade em costa direita, arenosa e sem abrigo. É tradicional que estando uma embarcação em perigo, fora salva por algumas pessoas que da praia acenaram e mostraram a abertura da barra, por onde entrou a embarcação livrando-se do perigo. Uma outra embarcação em grande perigo, em uma noite tempestuosa, achou-se quase milagrosamente salva nas quietas águas do rio Furado; passando a tempestade saiu perfeitamente barra afora. Braz Domingues, o principal fundador da Igreja e Seminário da Lapa achava-se nesta embarcação.”
Couto Reis escreveu que a navegação dos canais ao sul da lagoa Feia era enfadonha e que a vala do Furado era navegável. Não se sabe se aberta para o mar ou fechada. Caso aberta, o vórtice hídrico sugaria a embarcação para o mar. O capitão foi enfático em registrar que o rio Iguaçu e o rio do Veiga não chegavam ao mar. Já Carneiro da Silva escreveu que o Iguaçu tinha foz no mar e que ela era conhecida por barra do Canzoza. Sobre a Barra Velha, não há informação nos dois autores.
Em 1837, o Major Henrique Luiz de Niemeyer Bellegarde, jovem e competente, escreve que a lagoa Feia não tem “saída constante para o oceano, mas sim alguns rios por onde ela se esgota, e que reunindo-se ao sul do cabo de S. Tomé, rompem naturalmente nos tempos de grandes cheias a barra chamada do Furado; e são os rios: o da Onça, o Novo do Colégio, o da Castanheda, o do Barro Vermelho e o do Iguaçu. Como o combro de areias próximo ao mar, e os ventos reinantes muitas vezes conspiram para obstar a saída das águas, acontece que, rodeando estas então pelo interior do combro, vão formar ao norte do citado cabo a lagoa do Iguaçu, que abre para o oceano a barra denominada Canzonga, e deixa descobertos ricos e extensos pastos” (BELLEGARDE, Henrique Luiz de Niemeyer. Relatório da 4ª Seção de Obras Públicas da Província do Rio de Janeiro apresentado à respectiva Diretoria em agosto de 1837. Rio de Janeiro: Imprensa Americana de I. F. da Costa, 1837).
O major não fez qualquer registro sobre a navegação dos canais naturais ao sul da lagoa Feia nem da entrada ou saída de embarcações no sentido continente-mar ou vice-versa.
Barra da lagoa do Açu, antigo rio Iguaçu, em seu aspecto atual
Em 1868, Fernando José Martins traz uma informação importante sobre a foz do rio Iguaçu. Escreve ele que: “Uma linha natural e notável começou a servir de ponto divisório dos povoadores da barra com os dos campos, ao sul da ponta de S. Tomé; falamos do rio Açu ou Iguaçu: este rio sendo ao princípio corrente e livre de obstáculos, apenas encontra-se no presente vestígios nos tempos pluviosos. Foi tão navegável e limpo seu álveo, que morrendo afogado o preto Hilário, da fazenda do Saco dos Cupis, na ocasião em que no curralinho o ia atravessar a cavalo, ambos os corpos (o cavalo também afogou-se) foram encontrados na barra no fim de quatro dias. Todas as testemunhas que depuseram na justificação dos padres Bentos, quando investigavam a divisão dos dois termos, foram concordes em relatar este fato.” (MARTINS Fernando José. História do descobrimento e povoação da cidade de S. João da Barra e dos Campos dos Goitacazes, antiga Capitania da Paraíba do Sul. Rio de Janeiro: Tipografia de Quirino & irmão, 1868).
Podemos, assim, concluir provisoriamente que: 1- Em princípio, havia uma saída natural da água doce acumulada no continente para o mar abaixo do rio Paraíba do Sul: a foz do rio Iguaçu, chamada de Canzoza, que acabou se constituindo na divisa entre São João da Barra e Campos dos Goytacazes. Por mais que Couto Reis tenha examinado o rio Iguaçu e escrito que ele não tinha saída para o mar, informações posteriores dão conta de que ela alcançava o mar, ainda que sua foz fosse periódica. A evidência mais cabal dessa abertura é a existência ainda hoje de um manguezal com quatro espécies. O manguezal é um ecossistema que requer a presença de água salgada, sendo que o principal tipo desse ecossistema é o ribeirinho. O da atual lagoa do Açu aparenta ter sido de tal tipo; 2- o rio do Veiga devia estar ligado ao rio Iguaçu, ainda que apenas durante uma fase do ano. 3- Sem dúvida, o grande acontecimento anterior à abertura do canal da Flecha, foi a abertura de um rasgo no rio Iguaçu, que recebeu o nome de Barra do Furado, para mais rapidamente escoar água doce acumulada no continente para o mar. 4- É difícil acreditar que houvesse navegação nas imediações da Barra do Furado com ela aberta, ainda que no interior da planície, pois o fluxo arrastaria a embarcação para o mar, assim como é também improvável que se pudesse sair do continente para o mar ou deste para o continente pela Barra do Furado. 5- A foz do rio Iguaçu, quando aberta, devia comportar navegação de algum porte.
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